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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Como as Oligarquias transformam fudidos em ALIADOS

01. Por que não vale a pena, seja no Brazilquistão, seja em qualquer parte do mundo, perder uma amizade por causa das nossas convicções políticas? Porque enquanto os eleitores tidos pelas elites como “consumidores politicamente insignificantes” se digladiam (ou até mesmo se matam), estas financiam os políticos, manobram as leis e a Justiça e distribuem a riqueza para elas (os 10% mais ricos no Brasil possuem agora 73% da riqueza do país; 225 mil pessoas são milionárias; 1,9 mil são bilionários – muitos licitamente, outros por força da roubalheira geral na nação; esse topo da pirâmide está cada vez mais rico e o pobre cada vez mais pobre dizem as pesquisas internacionais – Valor 15/10/14: D2; 1% dos mais ricos do mundo possui metade da riqueza do planeta; os 10% mais ricos possuem 87% da riqueza mundial; a desigualdade de renda aumenta a cada dia; as 85 pessoas mais ricas possuem patrimônio equivalente a 3,5 bilhões de pessoas – Globo 15/10/14: 23). A profunda e até repugnante desigualdade (nos países de capitalismo selvagem, com destaque para o Brazilquistão) vem destruindo as bases da democracia (cada vez mais corrupta), está rebaixando as classes médias, levando os pobres à miséria, os miseráveis à fome e difundindo os perigosíssimos venenos do populismo, da discriminação, do ódio ao outro (ao inimigo), da violência e do sectarismo.
02. Na democracia representativa cada cidadão tem direito a um voto. Esse é o discurso corrente também no Brazilquistão. Nas oligarquias, sobretudo quando assumem o verniz aristocrata (elite que se julga melhor que o “resto”), o grupo social que manobra, manipula e monopoliza a política, o mercado e a cultura faz da democracia e dos eleitores um joguete (mero instrumento) à disposição dos seus interesses. Financiando as campanhas eleitorais de todos os candidatos, se tornam os grandes eleitores do país, os verdadeiros governantes. Martin Gilens (Princeton University) e Benjamin Page (Northwester University) estudaram esse fenômeno (nos EUA) (veja Dani Rodrik, Valor 11/11/14: A15) e comprovaram que é um mito afirmar que a classe média decide a governabilidade da nação. Na quase absoluta totalidade das vezes, quem manda é o grupo oligárquico que manobra a democracia. A classe média é atendida até o momento em que coincide com a oligarquia. Em caso de divergência, prevalece a vontade desta última: “quando os interesses das elites são distintos daqueles do restante da sociedade, é a opinião das elites que conta, quase exclusivamente” (dizem os professores citados).
03. Se os políticos corruptos “comprados” ou “ideologicamente bestializados” fazem tudo que a oligarquia quer e não o que o povo deseja, como eles são eleitos ou reeleitos? Os truques são os seguintes: 1) parte do eleitorado é completamente ignorante e não sabe absolutamente nada do funcionamento vil, degradante e abjeto da “democracia” que se pratica; 2) parte dos interesses do povo é atendida quando coincide com os interesses das elites “que realmente governam” (nesse ponto, o povo ludibriado “se acha o máximo” e não percebe as regras aviltantes do jogo); 3) os políticos corrompidos (venalmente e/ou ideologicamente) escondem a brutal desigualdade (tapando o nariz) e grosseiramente apelam para as fraquezas das massas ignaras e abestadas, ávidas por redenção: nacionalismos, sectarismos, racismos, simbolismos culturais, populismos, homofobismos, dogmatismos, preconceitismos, segregacionismos etc. Os estelionatários e demagogos, que frequentam aqui na Ilha a Escola Nacional de Cooptação dos “Fudidos” (inaugurada em 1500 para vitimizar os índios), são treinados para trabalharem com os estímulos culturais e psicológicos do povo abestado (com seus medos, preconceitos, dogmas, tendências racistas, ódios, inseguranças etc.). São eles os que invariavelmente ganham as eleições.
04. Outra lição que eles aprendem é a seguinte: “A religião é o ópio do povo” (Marx). Isso significa, especialmente nos países selvagens (como o Brazilquistão), o seguinte; manipulando-se os sentimentos mais profundos e mais cotidianos da população parasitariamente explorada, espoliada, irada, indignada e desesperançada, que não tem acesso ao ensino de qualidade, ela (magicamente) esquece suas degradantes privações materiais, sociais, intelectuais, vitais e culturais, sua péssima qualidade de vida, sua falta de perspectivas futuras. O truque está em saber manipular os valores tradicionais, os moralismos familiares, a demonização das drogas, os ódios aos menores das ruas, aos camelôs etc. A população abestada, com suas paixões inflamadas, cai no conto do vigário frequentemente. É dessa forma que as oligarquias conservam seu poder bem como a distribuição da riqueza para elas. É preciso sempre divertir e, ao mesmo tempo, envenenar a patuleia, mexer com seus brios e seus “valores” profanos. É assim que os privilégios são mantidos (financiamento junto ao BNDES, por exemplo, políticas fiscais de incentivo, escolas excelentes somente para as elites, medicina boa para quem tem dinheiro etc.), excluindo-se disso tudo os “outros”.
05. A mais perfeita manipulação ideológica consiste em fazer com que a classe média e o espoliado (o espoliado, o fracassado, o “fudido”, o desgraçado, o explorado, o usuário dos serviços públicos aqui no Brazilquistão) sonhe em ser como o dominador (Lima Barreto). Os políticos populistas sabem disso muito bem. Para assumirem o poder, chegam a jogar o povo contra as oligarquias. Depois, como se sabe historicamente, são os interesses destas que vão predominar.  Veja, por exemplo, o que dizia o aloprado Juán Domingo Perón (em 1955): “Ou lutamos e vencemos para consolidar as conquistas alcançadas ou a oligarquia as destroçarão no final. Oferecemos a paz, e eles rejeitaram. Agora vamos oferecer a luta. E eles sabem que quando nós nos decidimos lutar, lutamos até o final. Esta luta que iniciamos nunca vai terminar até que nos tenham aniquilado e massacrado”. Esse tipo de visão que divide o mundo em dois está presente na tradição da América Latina (veja Fernando Mello, El País). Tanto de baixo para cima como de cima para baixo. Os populistas demagogos, para conquistarem o poder, jogam o povo contra as oligarquias. As oligarquias, por sua vez, se servem da democracia populista, do Estado, do Direito, da Justiça e, sobretudo, dos políticos para subjugarem o povo e espoliá-lo (até à medula) por meio da não distribuição da renda, do capital, dos bons salários, da educação de qualidade, das relações sociais, do equilíbrio emocional, da cultura, dos prazeres, dos privilégios, das hierarquias, do acesso ao bem-estar etc. É preciso manipular ideologicamente a ira do “fudido”, sobretudo pelos meios de comunicação, para contar com a força dele para a preservação dos privilégios oligárquicos. O ódio dele não pode se voltar contra a oligarquia (isso é perigoso!), sim, contra outros “fudidos” (daí a guerra da polícia contra os pobres e vice-versa, o ódio contra os menores etc.).
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